Carregamento de carro elétrico muda rotina nos condomínios

Postado em Notícias. 03 de março de 2024
Valor Econômico

Marcio Rachkorsky comenta sobre as polêmicas dos carros elétricos nos condomínios

Adaptações para instalar tomadas geram dúvidas e até brigas entre moradores. Recentemente, começaram a chegar até o advogado Marcio Rachkorsky, especialista em condomínios, questões relacionadas a carregamento de carros elétricos. O que ele não poderia imaginar é que uma dessas discussões ia virar caso de polícia.

O caso envolveu um morador que acabara de comprar um veículo elétrico e ficou indignado ao perceber que o prédio não oferecia tomada adequada. Enfurecido, foi tirar satisfação com o síndico. A discussão acabou com a intervenção da polícia.

Quando os carros elétricos começaram a ser vendidos no Brasil surgiu a dúvida de como seria o carregamento, tanto doméstico quanto em locais públicos.

As dúvidas ainda persistem porque a participação dos elétricos nas vendas de carros ainda é pequena. Segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), em 2023, modelos com baterias recarregáveis externamente representaram 2,67% (52,3 mil unidades) do mercado. Isso inclui os puramente elétricos, que dependem exclusivamente de tomada, e os chamados híbridos “plug-in”, que também funcionam com motor a combustão, mas podem ser carregados em tomadas.

Apesar de a fatia ainda ser pequena, esse mercado tem registrado forte expansão. Em 2023, o volume dos 100% elétricos e híbridos “plug-in” cresceu 178,4% na comparação com 2022 e mais do que triplicou em relação a 2021.

Alguns apostam que a demanda vai começar a cair no Brasil, em decorrência da recente decisão do governo de retomar a cobrança do Imposto de Importação para esses modelos. Na Europa, as vendas de elétricos caíram depois que alguns governos suspenderam a concessão de bônus.

Por outro lado, modelos mais baratos, na faixa dos R$ 100 mil, começam a chegar, o que pode elevar a demanda. Soma-se a isso a expectativa de produção no país. “As chinesas têm planos sérios”, afirma Pedro de Conti, cofundador da Tupinambá, empresa de tecnologia especializada em serviços de carregamento.

Conti lembra que o Brasil ainda precisa expandir a infraestrutura em locais públicos, como rodovias, shoppings e supermercados. Mas esse mercado tem atraído a iniciativa privada, com o envolvimento de montadoras, fabricantes de equipamentos e prestadores de serviços. Em espaços comerciais, a rotatividade de visitantes favorece o interesse em oferecer o serviço.

“Se cada morador decidir puxar um cabo do medidor de energia do seu apartamento no futuro vai faltar espaço” – Marcelo Morelli.

Já o carregamento doméstico ainda traz dúvidas e debates mais acalorados nos condomínios. Para Rachkorsky, a discussão mal começou porque, na maioria dos casos, os preços dos carros elétricos ainda são elevados. Além disso, as dúvidas em torno da infraestrutura de recarga ainda provocam resistência. O especialista também sente falta de uma regulamentação do poder público, exigindo adaptações desses locais à era da eletromobilidade.

O mínimo necessário para carregar um carro elétrico é ter, por perto, uma tomada de 220 volts aterrada. A etapa seguinte é a escolha do tipo de carregador. O carro costuma vir com um portátil, de recarga mais lenta – com esse, são necessárias em torno de 12 horas para carregar a bateria. Existem, também, equipamentos conhecidos pelo nome de “wall box”, que oferecem um bom nível de recarga com seis a oito horas. Acima desses, vêm os rápidos e ultrarrápidos, mais comuns em áreas públicas.

Numa casa, a instalação é simples. A discussão começa quando a garagem é é área comum para todos os moradores e o prédio foi construído antes de o carro elétrico ser inventado. Se a ideia é adaptar o edifício, a solução é contratar empresa especializada para um diagnóstico da melhor opção.

Uma saída é, a partir do medidor de energia de cada apartamento, instalar uma espécie de duto único para levar a energia até a área das garagens.

“A partir dessa instalação, o morador interessado contrata um eletricista para puxar, por meio de cabo, uma extensão dessa central até a respectiva vaga”, explica Marcelo Morelli, proprietário da Difuzão. Criada há 27 anos, a empresa especializada em instalações elétricas percebeu nova oportunidade de negócios quando shopping centers a procuraram para prestar consultoria para a instalação de eletropontos nas garagens.

Nos condomínios, no caso de não haver consenso entre os moradores, a opção é cada interessado chamar um especialista e puxar, do medidor de energia de sue apartamento, um cabo até a vaga. O problema dessa solução, diz Morelli, é, no futuro, faltar espaço físico na chamada “eletrocalha” de cabos se mais moradores decidirem ter carro elétrico.

Outra solução é instalar um sistema inteligente de medição. No condomínio onde mora, em Jaraguá do Sul (SC), Carlos Bastos Grillo, diretor-superintendente de digital e sistemas da WEG, os carregadores são conectados na energia do edifício, a mesma de tomadas e lâmpadas da garagem. Ou seja, na conta coletiva. Porém, cada carregador é monitorado por um sistema desenvolvido pela própria WEG, o “smart charger”, que mede o consumo. Com as informações ali colhidas, o síndico ou administrador acrescenta na despesa do condômino o gasto com a energia do carregamento do carro.

Uma vantagem, diz Grillo, é que, no caso de vários veículos estarem conectados em tomadas ao mesmo tempo, o monitoramento inteligente controla o carregamento conforme o nível da bateria de cada um, evitando sobrecarga.

No caso de vagas rotativas, uma opção é definir qual terá ponto de carregamento. O uso da energia pode ser gerenciado por aplicativo, que cobra taxa de serviço. O pagamento é feito com cartão. A solução já é usada em hotéis, segundo Davi Bertoncello, presidente da Tupinambá.

A solução requer bom senso, lembra Arthur Carrão, cofundador da Recharge Brasil, empresa de engenharia e eletromobilidade. “A situação se complica se um morador tiver que aguardar a vez de usar a vaga do carregador enquanto o que deixou o carro lá resolve ir tomar banho mesmo sabendo que sua bateria já está carregada.

Rachkorsky recomenda que os condomínios se antecipem e encomendem um diagnóstico. Alguns moradores argumentam que sequer pensam em comprar um carro elétrico. Para o especialista, porém, a discussão tende a se tornar cada vez mais coletiva. “Basta comparar com outras despesas. É preciso comprar cloro mesmo que nem todos usem a piscina”, afirma.

 

 

 

 

 

Publicado em VALOR ECONÔMICO, 28/02/2024, por MARLI OLMOS, Valor

 

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